Monday, September 19, 2005

Os Marombeiros do bairro do Abricó

Berlmiro Serquillo. Os menos sensíveis da academia Caimbrellet o chamavam de Polenguinho, devido a um peido com cheiro de queijo que Serquillo deixara escapar numa vacilada que dera no voador.

A academia Caimbrellet tinha um saudável clima de cadeia e era mal vista pelos moradores do bairro do Abricó, onde se localizava, pois tornara-se um antro de marombeiros doidões e selvagens. Atraia toda escória do bairro, fazendo um estardalhaço enfadonho pela tarde a fora. Berlmiro decidira frequentá-la, pois queria ficar sarado e ser da turma do terrível arruaceiro Armandinho Peitinha, um semi-hermafrodita raivoso que malhava lá. Mas foi o próprio Armandinho e sua gangue de degenerados que se atracaram com Berlmiro naquele fim de tarde infernal. A cozinha do capeta se instalara na academia Caimbrellet e o calor era insuportável para a maioria de nós, pessoas normais, mas não para os marombeiros do bairro do Abricó.

Berlmiro fazia uma série intensa no supino quando caiu-lhe uma gota de suor quente na fronte. Focalizou a vista e pode ver Pedroca Roscofe, um pau mandado de Armandinho, debruçado sobre ele.

– Hehe, qualé Pedroca! Falou Berlmiro meio sem graça, colocando o supino no lugar com certa dificuldade. – Quer usar o supino?

– Nada disso Polenguinho, Armandinho quer bater um lero contigo. Falou Pedroca, liberando um bafo de cobra sobre Berlmiro.

Berlmiro levantou-se de pronto com esperanças que Armandinho tivesse finalmente querendo que ele entrasse no seu bando. Não podia estar mais errado. Armandinho já lhe armara uma arapuca, posicionando-se de maneira tal que pegou Berlmiro de frente e apertou-lhe as nádegas como os marombeiros costumam fazer antes das curras.

– Chegou sua hora Polenguinho, vai fazer uma rosca enviesada! Falei?!

Armandinho Peitinha era um crioulo dobrado que tinha os mamilos bicudos como os de uma ninfa e apesar de tudo tinha uma voz de alguma forma reconfortante. Mesmo assim não demorou muito para Berlmiro notar que aquele calor provavelmente alterara a libido de Armandinho e que ele iria ser currado em seguida. Foi quando Berlmiro começou a se debater freneticamente e a gritar por ajuda.

Quando Pedroca Roscofe veio por trás e o pressionou contra Armandinho numa espécie de sanduíche hediondo. Berlmiro deixou esvair o último grão de esperança num último gemido meio efeminado.

E foi quando viu, correndo em sua direção, como um Apollo em sua carruagem dourada e ofuscante, Rui Caimbrellet, o dono da academia e o marombeiro mais tenso de todos.

– Solta o Queijinho!!! Desferindo uma paulada certeira na nuca de Armandinho, que num jorro de sangue caiu com os olhos virados e meio torto sobre o suporte de pesos.

Rui estendeu a mão para Berlmiro que caíra no chão quando a pressão aliviou. Mas Rui não percebera que Pedroca se esgueirara como uma iguana bombada por trás de uma pilastra e com um bote certeiro enfiou-lhe um punhal entre as costelas. Ele urrou em agonia, enquanto Pedroca correu porta a fora e nunca mais foi visto, até um recente episódio de Linha Direta. Rui morreu esvaindo-se em sangue sobre um tatame e Berlmiro ficou catatônico até a chegada dos paramédicos.

Hoje Berlmiro acredita que nasceu de novo naquela tarde. Agora toda a vez que faz um supino na sua nova academia, sente os duros mamilos de Armandinho contra seu corpo e solta uma lágrima de tristeza.

Friday, September 02, 2005

Mocorongo